O Shibari – prática japonesa de imobilização através de cordas – desperta o interesse de muita gente, seja pela beleza das posições, pela técnica aplicada ou pela diversão de imobilizar alguém durante o sexo. E, se até (bem) pouco tempo atrás a única forma de se aproximar dessa prática era frequentando bares e festas com temática BDSM, hoje já é possível dizer que existe um shibari específico para cada pessoa. A estética de prática vem mudando (e uma busca por #shibari, #shibariart ou #kinbaku no Instagram pode atestar), e esse movimento começa a apresentar reflexos aqui no Brasil.
Em Junho deste ano, ganhamos o primeiro espaço dedicado exclusivamente ao Shibari no Brasil, o Estúdio Karada, no Rio de Janeiro. A preocupação dos proprietários Akira Nawa e Akane Nawa ao abrir este espaço (em “shibarês” chamamos de Dojo) era apresentar o Shibari sob outro ponto de vista. Para eles, a prática não precisa estar atrelada ao BDSM 100% do tempo. Assim, a estética do Karada não lembra calabouços ou prisões nem se deixa dominar por couro, fivelas e mordaças. Caminhando na contramão de toda essa estética, o Karada traz madeira em sua principal composição, e tatames de EVA para maior conforto e segurança da prática.
Pouco mais de três meses – e muito, MUITO trabalho – depois, os amigos/companheiros Bruno (Vanta) e Fernanda Mazza inauguraram um dojo em São Paulo, o Rope Space, localizado entre a Praça da Árvore e a Saúde.
O sobradinho de entrada recuada se mistura aos outros sobrados da região, mas a palavra SHIBARI escrita bem embaixo do nome do dojo não deixa dúvidas. Contudo, assim como no Karada, a preocupação dos co-criadores aqui também é a de abordar o Shibari sob outra perspectiva.
O nome do dojo, – Rope Space – o logotipo – duas cordas entrelaçadas, dobradas para sentidos opostos – e até mesmo os tons de violeta e púrpura escolhidos para a composição tanto do logotipo quanto da decoração do espaço têm um motivo específico – a intenção em apresentar o Shibari como um local seguro, inclusivo e de respeito às pessoas. Essa é a principal preocupação da Fernanda Mazza, co-criadora do espaço. Militante feminista, Fernanda luta pelas causas das mulheres e enxerga o shibari – e sobretudo o Rope Space – como uma forma de empoderamento. Bruno Vanta co-criador, partilha do mesmo princípio.
A estética oriental se faz presente nas colunas de madeira, bambus, argolas e nas cordas de juta utilizadas na decoração. No chão, tatames de EVA são montados para a prática, mas existem sofás feitos de pallets para observadores e até mesmo puffs e tapetes para os dias de casa mais cheia. Mas a preocupação dos co-criadores não para por aí. Existem cobertores disponíveis para após a sessão e até mesmo uma espécie de camarim, batizado pela criadora Fernanda de “after care room”. A idéia é que, se necessário, os praticantes possam utilizar o espaço para se prepararem pré e pós sessão, e para que o after care possa ser feito com calma.
O Rope Space não é apenas um local para a prática do shibari, mas também um local de grupo de estudos e de debates. A agenda do lugar conta com encontros do grupo “Shibari Feminista”, – aberto para mulheres e pessoas trans – além de servir para encontros da comunidade Shibari Brasil. O espaço é aberto a público, que pode marcar sessões de shibari, fotografia, se inscrever nos workshops que acontecerão no local, adquirir cordas e outros produtos relacionados à prática e até alugar o espaço por hora para prática, sempre respeitando aquelas regras básicas da militância LGBTQ+: SEM MACHISMO / SEM HOMOFOBIA!
Amauri Filho
IG/Fet – @liononadiet